02/09/11

Conto

Porque nunca leram nenhum meu:



O ar estava delicioso nessa manhã e o céu de um leve azul, tudo apontava para um dia perfeito. Tinha acordado com o sol a bater-lhe levemente na cara através das cortinas translúcidas, sem qualquer vontade de ficar na cama. Subiu pelo alçapão para o templo, vestido com ar e vento, e sentou-se a meditar durante algum tempo. Eram quase oito da manhã quando voltou a assentar a cabeça nos ombros, e decidiu sair para a rua. O sol brilhava com suavidade, estava uma temperatura amena, e o ar estava delicioso nessa manhã.

Apoiou-se levemente no carvalho que lhe guardava a entrada, e sondou os arredores. Tinha acabado de sair do transe, era-lhe fácil sintonizar-se com a floresta. Nem uma pessoa se avistava “Melhor” pensou de si para si “É da maneira que não me tenho que preocupar com roupas.” Feliz por poder andar em liberdade, sem o perigo de encontros inesperados, decidiu ir dar um mergulho no lago. Ficava a um par de quilómetros de casa, mas isso era um quase nada para ele. E se hoje fosse uma cobra? Decidido, transformou-se. Uma cobra de um azul profundo, com duas listas amarelas a rodear-lhe os olhos e a correr-lhe ao longo do corpo. Era uma das vantagens de poder andar sem roupa: não se tinha de preocupar com ela quando se transformava.

Partiu, deslizando, com a terra a ronronar-lhe de encontro à barriga, e com o sol a escorrer-lhe pelas costas. A floresta já estava acordada há algum tempo, e o calor tinha posto as cigarras a cantar. Foi andando, embriagado pelo cheiro do ar, pela carícia da terra e do sol, sem sentir sequer o tempo passar. Fechou os olhos momentaneamente, deixando-se levar pelo cheiro delicioso que estava no ar (e o que quer que estivesse no ar estava a dar-lhe a volta à cabeça), e quando os voltou a abrir, já avistava o lago. Ele era magnífico, reluzente àquela hora. O rio que descia pela montanha encontrava ali uma ravina e caia numa cascata, formando um modesto lago, antes de voltara seguir o seu percurso, agora calmo e langoroso. Do topo da ravina, tinha uma visão privilegiada do lago, e conseguia ouvir à sua esquerda o rugir da cascata. Agora; deslizava com velocidade, cada vez mais velocidade, o ronronar da terra tinha-se transformado num rosnar, que se tornava cada vez mais intenso à medida que acelerava até que, de súbdito, silêncio. Tinha ultrapassado a borda da ravina, estava a cair de encontro à água. Voltou a ser homem, e mergulhou. Ao contrário do que acontecia na maior parte do ano, a água não estava gelada. Estava sim, deliciosamente fresca, e incrivelmente translúcida. Conseguiu ver ainda alguns peixes a fugir, espavoridos pela sua entrada estrondosa, e um par de tartarugas, claramente aborrecidas por terem tido o pequeno-almoço interrompido. Voltou à superfície para respirar, e – Céus – o ar estava mesmo delicioso nessa manhã.

Boiou um bocado, flutuando sem preocupações, e depois decidiu ir secar na margem. Deitou-se, de encontro à ilusão (a que muitos chamavam de realidade), sentindo-a com o seu corpo. O seu pé esquerdo estava irrequieto, por isso soltou-o transformando-o numa tartaruga para que fosse conviver com as outras que habitavam o lago. Sem distracções, embrenhou-se em si mesmo, tentando descobrir uma vez mais o porquê da sua existência. Desde que começara a meditar tinha descoberto uma miríade de coisas interessantes sobre si mesmo, quem era, desde quando é que era, o que eram os outros, entre muitas outras coisas sobre as quais nem sequer pensava enquanto andava adormecido. No entanto, ainda tinha uma dúvida por responder: Qual era a sua missão? Havia sido essa questão que, inicialmente, o tinha impelido a saber mais sobre si mesmo, a meditar e, mais tarde, foi essa mesma dúvida que o levara a abandonar a sociedade e a construir aquele retiro nas montanhas. Com o ermitério tinha vindo uma maior paz, e tinha conseguido ascender a profundidades insondáveis do Eu. Há medida que se ia conhecendo melhor, também o mundo e as suas intrincadas mecânicas lhe eram reveladas. Em pouco tempo começou a desenvolver miraculosos poderes que, embora úteis, não o ajudavam a responder à dúvida que o atormentava. Quer dizer, não era propriamente atormentado, o auto-conhecimento também lhe tinha trazido paz de espírito, mas sentia um desconforto, algo que não estava certo. Porque, não sabendo a sua missão, como sabia se não estava a falhar?

– Aposto que Tu te estás a rir aí em cima, a ver-me partir a cabeça quando a resposta está mesmo em frente aos meus olhos. Bem sei com és – Volta e meia dava-lhe para aquilo. Já que Deus não lhe dava respostas, mandava vir com ele. Era um resmungar bem-humorado, ele bem sabia que não lhe valia de nada. Mas sempre o ajudava a sentir-se um pouco melhor. Normalmente limitava-se a sondar-se, à procura de pistas, de indicações, mas por vezes sentia-se cansado de procurar sem nunca encontrar, e aí resmungava com Ele. Ultimamente tinha sido pior. Já tinha explorado todos os meandros de si mesmo, e sentia que a resposta à sua pergunta lhe estava escapar por uma insignificância, mesmo ali ao lado, a reluzir para ele, e no entanto….Mas, Deuses, se aquela manhã cheirava bem. Era um cheiro….Feminino.

Abriu os olhos de repente. Era um cheiro claramente feminino. Nem sabia como não se tinha apercebido antes. Enterrou uma mão na ilusão, e sentiu a floresta em volta. Continuava vazia. Só se… Já uma vez tinha acontecido. Por vezes o rio não se deixava ler, a não ser que ele mergulhasse nele. Atirou-se de volta ao lago, chamando o seu pé de volta no entretanto, e voltando a ter um corpo completo. Lá estava. Sentia claramente uma presença. Para lá do lago, mas apenas umas dezenas de metros para dentro do rio, lá estava ela. Não era o rio que lhe tinha tapado os olhos. Era ela que era perfeita. De tal modo perfeita para si que sua perfeição ressoava nele, sendo que quase não a distinguia. Mas, assim que a sentiu, soube quem ela era.

- Alma gémea – sussurrou.

Fragmentou-se num cardume, disperso de felicidade. Era ela! Era ela o sentido da sua vida! A sua busca tinha acabado, e a resposta era simples e perfeita. Anos, uma eternidade depois do inicio da sua busca, tinha acabado. Ela tinha vindo, depois de vidas e vidas a lutar para ser cada vez melhor, para não se deixar macular pela sociedade, para ser mais perfeito, ela tinha finalmente chegado. A sua resposta. De agora em diante, ia ser completo, uno, Feliz.

25/07/11

18

Porque eu mereço(havia de ter sido posto ontem):

20/06/11

Futuro

Então ao que parece, vou seguir psicologia. Mas vou também ter uma passatempo fora do comum: vou-me armar em arquitecto, p'lo menos do papel. Quando eu tiver uns esboços prontos, pode ser que ponha aqui alguma coisa. Quem sabe, talvez desenhe mansões com harens escondidos, ou casas em barris, ou mesmo casas flutuantes, ou até casas em ovos (para quem se estiver a perguntar, tenho desenhos de casa em barris e em ovos, tenho uma fixação qualquer esquisita por casa redondas).. Por outro lado, se for brincando, quando for grande vou viver numa casa desenhada por mim ^^

e por falar em casas, ficam aqui uma foto bonita:




03/06/11

Axel Coon - Lamenting city

E musiquinha da boa?





E eu a pensar que já me tinha curado da fritaria, e agora estou a ter uma recaída --'

Passando a coisas importantes,

(espaço em branco)

Fim

02/04/11

Sentidos

Um gajo não tem nada que fazer, mete-se a pensar nas coisas, e depois sai-se com isto.

Os sentidos são umas coisas muito giras, que nos permitem conhecer o mundo que nos rodeia. O meu primeiro pensamento foi que eles trabalhassem aos pares. A visão e a audição trabalhariam juntos, e o paladar e o olfacto também. Mas então e o tacto?

Isto levou-me ao próximo pensamento. Eles não funcionam como pares, mas sim em ciclo, cada um suportando o outro, adicionando mais informação, fazendo com que o mundo tivesse sentido. No ciclo, eles forma uma relação forte com o sentido que vem antes e o que vem depois. Eu queria por aqui uma imagem toda bonita do ciclo que desenhei num post-it, mas dava muito trabalho, por isso fica só por escrito:


Então, começando pelo olfacto; este é complementado pelo paladar. Por algum motivo há cheiros que nos fazem crescer água na boca, e outros que nos dão a volta ao estômago. Se nos cheira bem, vamos querer provar, dar uma valente lambidela no que quer que estimule este sentido. A excepção óbvia são os gelados, que embora sem cheiro também levam valentes lambidelas.

O paladar é complementado pelo tacto. Um sabor vem sempre acompanhado por uma textura, é por isso que são tantas vezes associados. Um chocolate que se derrete na boca, uma maçã crocante,etc. Sem as texturas, os sabores seriam muito menos intensos. Pensem só naquilo que se perdia, se se metesse a boca em qualquer coisa suculenta (um pedaço de carne, ou uma laranja, por exemplo) e não se sentisse absolutamente nada?!

O tacto é complementado pela visão. Nos conseguimos fazer uma boa imagem de alguma coisa só pelo tacto, e é por este que nos orientamos no escuro. No entanto, o tacto não é o suficiente para nos dar uma imagem completa do mundo. Para perceber a cor, a visão é indispensável. Só pelo tacto, uma pessoa vai lá, mas estar a ver no que se toca é outra coisa.

E a visão é complementada pela audição. A visão tem uma amplitude limitada, não conseguimos ver para trás da nossa cabeça, nem através das paredes. Mas conseguimos ouvir, de onde quer que venha o som. E isso permite-nos ter uma vaga ideia do que nos rodeia, mesmo que não o consigamos ver ou tocar. Além de que, o som dá uma dimensão diferente às coisas, e como já disse, dá para saber o que está a acontecer mesmo sem estar a olhar.

Finalmente, a audição é complementada pelo olfacto. Uma pessoa não ouve a comida, mas sabe que ela está lá pelo cheiro. O cheiro por vezes chega-nos antes do som, e embora o olfacto esteja na maioria das pessoas subdesenvolvido, é também importante para no apercebermos melhor do mundo.

Pronto, já esta. E, maravilha das maravilhas, o post não serve para nada, e é (relativamente) perv ^^ as saudades que eu tinha de algo assim.

19/02/11

escuteirisses, o imaginário vencedor (o meu^^)

O texto que vai servir de imaginário para a minha próxima actividade de escuteiros. Com agradecimentos para à Leto e à Kath pela correcção do português:


“Caminhos da vida”
Como pioneiros, estamos numa altura em que começamos a seguir o nosso próprio rumo. Para trás deixamos a infância, e olhamos de frente para as responsabilidades que a idade adulta nos vai trazer. É agora que começamos a definir o nosso caminho e a pessoa que vamos ser no futuro.

Até agora tudo era fácil. Em casa, os nossos pais tomavam conta de nós. Na escola, não tínhamos de fazer escolhas. No escutismo, os chefes preparavam-nos as actividades. No entanto, em casa já queremos tomar conta de nós mesmos. Na escola escolhemos a área que vai determinar o nosso futuro, ou começamos já a pensar no curso que vamos seguir. Nos escuteiros temos as actividades dependentes apenas daquilo que fizermos. Começamos a ter percepção dos obstáculos que nos esperam na vida. No entanto, relegamos tudo isso para segundo plano, porque apenas temos de nos preocupar em crescer.

Durante a nossa infância, o caminho foi-nos mostrado. Os nossos pais guiavam-nos, e apenas tínhamos de os seguir. Foi durante a infância que aprendemos uma imensidão de coisas que nos vão ser úteis no futuro. Ler, escrever, falar, andar, criar laços, etc. A nossa infância foi a parte mais fácil e despreocupada do caminho. Ela traz-nos recordações de um tempo sem responsabilidades, em que se aprendia pelo prazer de aprender, e se vivia pelo prazer de viver.

Mas todas as coisas boas têm um fim. E o fim da infância chama-se adolescência. Nesta fase turbulenta da nossa vida começamos a lutar pela nossa autonomia, a tentar seguir o nosso próprio caminho. Não é fácil; é um período conturbado, no qual tão depressa somos inundados de certezas como de dúvidas. Contudo toda esta confusão força-nos a crescer, a aprender a tomar conta de nós mesmo. É também nesta altura que se forjam grandes amizades, que nos ligamos a pessoas com as quais sabemos que vamos poder contar com a vida inteira. É na adolescência que damos os primeiros passos para a idade adulta, sem no entanto deixarmos de ser crianças. É por isso que se considera a adolescência uma ponte, um elo de ligação, que nos vai transportar da nossa infância para a idade adulta. É uma ponte instável, da qual muitas vezes sentimos que vamos cair. No entanto, com perseverança e com o auxílio dos outros, é possível chegar ao outro lado em segurança.

Passando a ponte da adolescência, chegamos à idade adulta. É uma época cheia de responsabilidades. Para trás foi deixado definitivamente o apoio dos nossos pais e estamos realmente dependentes de nós mesmos. O caminho é agora mais difícil, com mais obstáculos e, no entanto, é também muito mais excitante e cheio de possibilidades. É uma altura em que estamos muito mais à deriva, e por isso temos que confiar em tudo o que aprendemos e vivemos até agora. Quando nos tornamos adultos, provamos o que valemos, o que realmente somos. Podemos ser como todos os outros, que por se afundar, que vivem sem rumo, sem um objectivo, sem um sonho que os guie. Pessoas cuja paixão pela vida foi apagada pelo peso da responsabilidades com que de repente se deparam. Mas, se tivermos sido bem preparados, se formos perseverantes, trabalhadores e ambiciosos na medida certa, podemos chegar onde quer que queiramos ir, e aí vamos obter a nossa recompensa.

Por fim a recompensa. É quando alcançamos os nossos sonhos e nos sentimos completos e satisfeitos connosco. É quando nos sentamos, depois de inúmeros obstáculos ultrapassados, e apreciamos o que a vida tem para nos dar. Pode ser uma relação, um emprego de sucesso, ou uma casa acolhedora. Não interessa o objecto em si, mas sim o que ele simboliza. A recompensa é aquilo que nos espera no fim do caminho, o motivo pelo qual nos recusamos a baixar os braços, aquilo que nos arrasta para fora da cama todos os dias. É saber que não importa quão longo seja o caminho, algures lá à frente há algo que nos espera, que nos vai fazer olhar para trás e dizer “valeu a pena”.

24/01/11

Coisas

Más:

Tentei salvar uma salamandra, mas ela morreu. Tadita, tinha as entranhas esmagadas.

Ando cansado

Faltam-me pessoas (tenho que vos ir visitar Catauina e Letinha ^^)

Falta-me tempo

Desperdiço tempo

A s'tora de química e os meus nervos não se dão muito bem

A s'tora que me dá francês andou a gritar com a minha colega, a dizer-lhe que tem falta de auto-estima, e para ser confiante. É claro que ter uma pessoa aos gritos connosco deve ser mesmo bom para a confiança...

Não encontro quem me dê aulas de saxofone


Boas:

Ando a escrever umas coisitas (para além dos updates do blog)

Descobri umas musicas muito boas

Os escuteirinhos (mesmo assim já foram melhores)

Eu

A turma da escola não é má

O grupo de AP até é simpático

Estou sem problemas de sono

Estou quase a acabar os óculos

Vou à viagem de finalistas

Tenho mais coisas boas do que más.


Péssimas:

Não faço a mínima ideia do que quero fazer da vida

Ando p'raqui a desabafar pr'o blog. O.O devo estar a ficar doente, ou não sei. Uma pessoa, que passe por aqui enganada, ainda fica a pensar que eu tenho sentimentos ou coisa do género, ou que este blog tem coisas que valham a pena cuscar. É melhor fazer um post estúpido entretanto.


Na continuação do que foi dito anteriormente, aviso que o próximo post vai ter fotografias. Temam.

19/01/11

Jantar.1

Surpreendentemente, a laranja não se deu bem com as natas, e acordei esta manhã com se tivesse uma pedra no estômago --'

Por outro lado, o teste até correu bem, por isso não há problema.

18/01/11

Jantar

Sempre que tenho um teste no dia seguinte, faço questão de ter um jantar especialmente saboroso, preparado por mim. É claro que muita gente discorda da minha definição de "saboroso", até eu mesmo algumas vezes. Mas este até ficou bom, por isso vou deixar aqui a receita. É para uma pessoa, mas os cogumelos chegam para duas.

Ingredientes:
1 Banana
1 Laranja
1 Lata pequena de cogumelos(champignon)
4 Batatas (mais ou menos, dependendo que quantas se consegue comer)
2 colheres de sobremesa de quejo da serra (ou outro queijo de colher mais suave)
Cerveja
Natas
Pimenta
Oregons
Sal


Descascam-se as batatas, cortam-se às rodelas e põem-se a fritar.

Numa frigideira aquece-se um pouco de óleo (mesmo pouco, para os cogumelos não ficarem todos oleosos), e despejam-se os cogumelos lá para dentro. Tempera-se com pimenta, oregons e sal a gosto (atenção - uma lata de cogumelos é uma quantidade pequena, por isso cuidado para não os salgar). Deixa-se fritar um pouco. Adiciona-se cerveja suficiente para quase cobrir os cogumelos, e deixa-se em lume brando (ou médio se se estiver sem paciência)até quase toda a cerveja evaporar. Corta-se aproximadamente 1/4 de uma banana média, corta-se a banana duas vezes longitudinalmente, e mais duas vezes transversalmente, para se obterem 12 pedaços mais pequenos. Juntam-se os pedaços de banana aos cogumelos, e meio pacote de natas (eu usei um pacote inteiro, mas meio deve chegar). Deixa-se em lume brando, até as natas ficarem espessas. A banana vai dar um sabor adocicado ao molho e aos cogumelos. Quanto mais tempo tiverem os cogumelos ao lume depois deste passo, mais doces vão ficar, por isso vão provando o molho, e apaguem quando acharem que está bom. Da primeira que me meti a inventar deixei o molho a apurar muito tempo e os cogumelos ficaram tão doces que estavam praticamente intragáveis.

Enquanto o molho apura, descasca-se a laranja e corta-se às rodelas (espessura aproximada de um dedo). Depois, divide-se os gomos das rodelas, que dá mais jeito para comer.

No final quando estiver tudo pronto, servir num prato, com duas colheres do queijo.

Eu aconselho a comer os diversos ingredientes por esta ordem: laranja, cogumelos, batatas, queijo. Os sabores assim complementam-se.

Sugestões:

Pode adicionar-se às batatas alecrim na fritura, para dar um sabor diferente às batatas.

11/01/11

Uma reflexão filosófica muito profunda

As máscaras.

Se notarem bem, dependendo das companhias as pessoas tendem a mudar - é normal, as pressões sociais mudam, as pessoas ajustam-se a essa mudança. Para cada grupo põem uma máscara diferente, deixando apenas à vista parte de si, uma parte que se adapte ao meio, que não seja destoante. Fazem-no para se sentirem protegidas, para serem aceites, por uma quantidade de razões. E as máscaras servem esse propósito. Graças a elas somos aceites, conhecemos pessoas, e a nossa essência é protegida do cruel mundo que nos rodeia.

Mas a máscara apenas deixa passar uma fracção de nós. Por trás dela está uma pessoa completa, um ser muito maior do que a máscara deixa antever. Quando se chega a um local novo, levamos quase sempre posta uma máscara grossa, que nos permita avaliar, sem nos expormos em demasia. Depois, à medida que ganhamos confiança a ela vai descaindo, vão-se soltando fragmentos, e expomos uma parte cada vez maior da nossa essência ao mundo, com esperança que essa parte seja aceite, para que possamos largar a máscara e passar a sermos nós mesmos. Mas isso nem sempre acontece, por isso voltamos a pegar naquele bocadinho e a cola-lo, e não se fala mais no assunto. A cobertura não é completa, claro. Mas ao menos aquele ponto fraco está escondido e não é ostensivamente exibido.

Adaptamos-nos, vê-mos o que podemos deixar à mostra, e o que tem que permanecer escondido. Deixamos partes de nós passar, e mantemos outras fechadas cá dentro. Por vezes o medo impede-nos de expor mais um bocadinho, que talvez até fosse aceite, mas o receio da exclusão obriga essa parte a manter-se atrás da mascara.

E é o medo que pode transformar a máscara em algo monstruoso. Quando o medo da rejeição começa a falar mais alto, a máscara torna-se possessiva, começa a sussurrar-nos ao ouvido, a diz-nos para não fazermos, para não dizermos, para não sermos. E ai começa o descalabro. Começamos a tomar atitudes que não são nossas, a deixar-mo-nos ir com a corrente, e tudo isto porque por causa do medo agora é a máscara que nos usa, e não o contrário. E quando todos somos máscaras, todos somos iguais, seguimos na corrente, sem originalidade, sem pensamentos próprios, formando uma massa anónima.

Deixamos de ser únicos para sermos apenas mais um.

E com isto, o ser que está atrás da máscara encolhe-se, apaga-se, e começa a morrer. Quando nos escondemos e nunca nos deixamos respirar e vir à superfície, quando nos abafamos constantemente por de trás de uma máscara opressiva, vamos morrendo aos pouco. É vital que isso não aconteça, que nos mantenhamos mais fortes do que a máscara, que a usemos, como um utensílio útil, sim, mas como algo te tem eventualmente de ser descartado. Quantas vezes no seio de um grupo nos sentimos sozinhos, sem ninguém com que nos identifiquemos, e no entanto continuamos lá, apenas por comodismo? Por vezes não temos escolha; uma turma, uma equipa, uma casa. E, como não nos identificamos apenas mostramos a nossa máscara ao grupo, não mostramos o nosso eu. E se estamos escondidos, como podemos esperar que os outros nos vejam? O que nos garante que o meu próximo lá no fundo não é igual a mim, que temos mais em comum do que pensamos, e que apenas por usar-mos uma máscara não o sabemos? Quantas vezes acontece, conhecemos uma pessoa à anos, e de repente descobrimos que ela até gosta de, sei lá, ir à praia de inverno ver o mar revoltoso, como nós, e apenas por estarmos escondidos acobardados por detrás de um rosto que não é o nosso descobrimos isso mais cedo? Que como essa partilhamos tantas outras coisas, que podiam ter dado numa grande amizade, ou pelo menos em algo mais do que o bom dia/boa tarde que a educação exige?

E é ai que a amizade entra. Quando descobrimos pontos em comum, ou mesmo uma personalidade que nos agrada, vamos deixando cair a máscara, bocados cada vez maiores, libertando-nos do seu sufoco e do seu peso. Um amigo é alguém que nos aceita, que nos deixa ser quem nós somos, que nos faz sentir que não estamos sós no mundo. É alguém que podemos contar, que sabemos que está lá para o que der e vier. Mas para se chegar até ai tem que se fazer um esforço, tem que se deixar cair a máscara, temos que nos expor. A amizade floresce entre pessoas, não entre máscaras, e é por isso que apenas quando pomos estas de lado conseguimos alcançar o próximo, e formar laços com ele.

E isto já está enorme, e já não é cedo. Talvez um dia escreva o resto deste texto. Que raio de coisa mais deprimente --'. Bah, e uma gota de pervismo, fetiches há muitos, e o das máscaras nem sequer é especialmente original.

Céus, que isto está mesmo pelas ruas da amargura, nem a perversidade me salva.